Alunos acima do peso são mais vítimas de bullying na escola

bullying RIO – Gordinho e balofo eram apelidos que Claudio Pinkusfeld Magon ouvia todos os dias no colégio em que estudava, quando tinha 11 anos. Disfarçada de brincadeira, a implicância foi ficando cada vez mais intensa e se transformou em agressão, apesar dos pedidos do estudante para que os colegas o deixassem em paz.

– Eu sofria muito com isso, não levava na boa – lembra Claudio, que, hoje, com 17 anos, fala abertamente sobre o assunto por acreditar no diálogo como a melhor forma de combater o bullying. – Eu ia para o colégio já querendo voltar. E isso atrapalhou meu desempenho, tive que ter ajuda de aulas extras para passar de ano.

À época, o adolescente conversou com a psicóloga da escola, que, segundo Claudio, “espalhou” a reclamação, o que piorou a situação. Os pais acabaram encaminhando o jovem para um psiquiatra, que o diagnosticou com depressão e receitou o remédio Wellbutrin, indicado para casos agudos da doença.

O cenário começou a mudar quando o rapaz trocou de colégio, começou a fazer análise e ingressou em um curso de teatro. De um ano para cá, ele também passou a lutar kickboxing, o que o deixa mais relaxado e confiante. Hoje, ele não toma mais antidepressivos, tem muitos amigos, costuma sair à noite e considera o problema quase superado.

– Recuperei minha autoestima e levo uma vida igual a de qualquer adolescente, mas o bullying me traumatizou.

Mais do que etnia, raça ou características físicas específicas, o peso é o que deixa estudantes, como Claudio, mais sujeitos ao bullying nas escolas brasileiras e, consequentemente, ao uso de remédios antidepressivos e drogas. E os gordinhos não estão sozinhos: no outro extremo da balança, os ditos “magrinhos” também estão propensos a esse comportamento de risco. Estas foram algumas conclusões do estudo “Discriminação contra os estudantes obesos e muito magros nas escolas brasileiras”, publicado em janeiro deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Estereótipos de risco

O trabalho foi baseado nos números da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2012, que entrevistou 110 mil alunos, representando um universo de mais de três milhões de crianças. O estudo traçou o perfil antropométrico dos estudantes a partir da percepção deles sobre o próprio corpo, numa escala de características como “muito magro”, “magro”, “normal”, “gordo” e “muito gordo”. Após comparar as respostas das entrevistas, a pesquisa chegou à conclusão que os estereótipos “muito magro”, “gordo” e “muito gordo” são os alvos preferidos de perseguições: 11,3%, 12,1% e 23,7% das crianças inseridas nestas categorias, respectivamente, responderam sofrer bullying com frequência.

No caso das meninas, o cenário muda um pouco. As “muito gordas” e “muito magras” são as que sofrem mais, seguidas das “gordas”, com 17%, 12,6% e 8%, respectivamente. Hoje com 15 anos, a paulistana Julianne Thaís Lima sofria com as provocações diárias dos colegas de escola no início da adolescência.

– Eles me xingavam de gordinha, baleia, me derrubavam no chão e diziam: “Você não deveria estar aqui. Vai embora” – relata Julianne, que, ao levar seu problema à direção da escola, não viu medidas eficientes serem tomadas. – A coordenadora passou nas salas e falou sobre bullying, mas não adiantou. Eu não queria ir para a escola e chorava muito em casa. Minhas notas pioraram.

Assim como Claudio, Julianne precisou mudar de colégio para voltar a ter uma rotina normal. Também faz quatro anos que ela começou a frequentar o Instituto Movere, que previne e trata a obesidade em crianças e adolescentes gratuitamente. Lá, Julianne começou a ser acompanhada por uma equipe de psicólogos, nutricionistas e professores de educação física e ainda descobriu duas paixões: a dança e o circo. Hoje, ela faz aulas de acrobacias no instituto, dança ballet clássico e jazz na academia Lila Dance, perto de casa, e pensa em fazer vestibular para educação física.

Casos como o de Julianne são tão comuns que o Instituto Movere abrirá, em maio, um novo projeto social para atender vítimas de bullying, o Núcleo de Atenção à Violência com a Criança e o Adolescente Obeso. Além de profissionais da medicina, psicologia, nutrição e educação física, a iniciativa contará também com a orientação de advogados, que podem dar assistência jurídica aos pais, em casos de agressões, e assistentes sociais, dispostos a orientar pais e professores. O projeto, também gratuito, terá 100 vagas.

– Quase todos os adolescentes que chegam ao instituto enfrentam bullying na escola por conta do peso. Eles não querem ir para a escola, se isolam, e, quando os pais percebem, o filho perdeu o ano escolar – observa a presidente do Movere, Vera Lúcia Perino Barbosa.

Padrão de beleza ambíguo

A aparência física, ainda segundo a pesquisa do Ipea, é o principal motivo de bullying, em 38,5% dos casos. Bem atrás vem a cor da pele, muito ligada a questões étnico-raciais, com apenas 5,9%.

De acordo com Luis Claudio Kubota, economista do Ipea e autor do estudo, os números mostram que a pessoa obesa é sempre mais perseguida no país, fenômeno explicado pela sociedade ocidental, que seria hostil ao estereótipo.

– Os estudos indicam que existe preconceito generalizado contra o obeso, que vem às vezes da própria família. Mas no caso dos muito magros, existe uma ambiguidade para as mulheres, porque as modelos, por exemplo, são muito magras, mas também consideradas padrão de beleza – observa Kubota.

Com um quadro de ansiedade e fobia social, Paolo de Carvalho Soares, de 16 anos, abandonou a escola em setembro e, depois de passar por três colégios nos últimos seis anos, diz que não quer voltar a estudar no Brasil. Ele pretende ingressar em uma escola americana, em Buffalo, no estado de Nova York, onde se sente mais confortável para fazer amigos e se comunicar com as pessoas. Atualmente Paolo só sai de casa para a aula particular de taekwondo, e passa a maior parte do tempo no computador, jogando videogame.

– Eu era gordinho, um grupo de garotos costumava me empurrar no corredor e que me bater no pátio, na hora do recreio – conta Paolo, que aguentou as agressões por um ano e meio, até que revidou uma delas com socos, o que levou a instituição a suspendê-lo. – Sei que o que eu fiz não estava certo, mas eu passei um ano e meio apanhando sem que a escola fizesse alguma coisa e, quando resolvi agir, colocaram a culpa em mim.

Outros dados da pesquisa apontam comportamento de risco. Perguntadas se já haviam utilizado algum tipo de droga, as crianças “muito magras” e “muito gordas” foram as que mais responderam positivamente ao uso de remédios para ganhar ou perder peso, laxantes ou indutores de vômito. E os “muito magros” ainda são mais propensos ao consumo de álcool (29,6%), drogas ilícitas (5,7%), cigarro (7,3%) e drogas para ganhar ou perder peso (32,5%).

Fonte: O Globo

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