Mobilização tenta apagar símbolos da ditadura que dão nome a ruas no País

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Agentes do regime militar estão nas placas de ruas, praças e até cidades. Estratégia de ativistas de direitos humanos é renomear esses lugares com homenagens a militantes de esquerda

As comissões empenhadas na reconstituição dos anos de chumbo se mobilizam para remover das ruas, avenidas, praças, viadutos e até de cidades os nomes de personagens ligadas à ditadura ou vinculadas às violações de direitos humanos. Nas cidades onde for possível, os nomes de repressores serão substituídos por vítimas do regime militar.

Na mira dos ativistas estão municípios como Curionópolis, no Sul do Pará, criada em maio de 1988 para homenagear o então interventor militar no garimpo de Serra Pelada, Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, nome umbilicalmente ligado a tortura, extermínio e desaparecimento dos corpos de 58 militantes do PCdoB na Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1975.

Na segunda-feira, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) mostrou documentos apontando que Curió era um dos principais responsáveis pela Casa Azul, centro clandestino de tortura e execução de presos políticos na cidade de Marabá, onde desapareceram pelo menos 24 guerrilheiros levados com vida ao local. Deputado federal eleito na Constituinte de 1988, Curió tornou-se depois prefeito do município por três mandatos e transformou a região num feudo.

De Curionópolis, ponto estratégico para monitorar a movimentação política, o ex-militar, que foi para a reserva com a patente de coronel, teria coordenado as operações de limpeza dos vestígios da guerrilha (especialmente ossadas de guerrilheiros enterradas em locais anteriormente identificados) e monitorado a exploração do minério da Serra dos Carajás a serviço do regime. Ele será ouvido em maio pela CNV.

Um caso recente de troca de nome aconteceu em Salvador no início do ano. O governo do Estado mudou oficialmente o nome do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), que comandou o País no período mais sombrio do regime militar, para Carlos Mariguella, um dos principais expoentes da esquerda na luta contra a ditadura e morto a tiros por agentes do Dops, em 1969. A ação partiu de alunos, ex-alunos, professores e responsáveis pela instituição.

Na capital paulista, um dos principais alvos é a Rua Doutor Sérgio Fleury, denominação oficializada por decreto do ex-prefeito de São Paulo, Antônio Salim Curiati, que herdou o cargo e o compromisso da inconveniente homenagem do então governador e hoje deputado Paulo Maluf (PP), um dos principais sustentáculos da ditadura.

Fleury é a face civil urbana da repressão. Sua atuação está ligada a dezenas de casos de tortura, execuções sumárias e desaparecimentos forçados. Antes de assumir o comando da repressão política, foi chefe do Esquadrão da Morte, grupo responsável pela matança de supostos marginais na capital paulista.

O caso da Rua Doutor Sergio Fleury é um dos mais polêmicos. Localizada no Alto da Lapa, zona oeste da capital paulista, trata-se de uma rua curta, onde vivem menos de 20 famílias de classe média, que não foram consultadas à época do decreto municipal e nem agora, quando a Prefeitura paulistana decidiu mudar o homenageado. O nome do algoz deve ser trocado pelo de uma de suas vítimas, o frei dominicano Tito de Alencar, que se suicidou em Lyon, na França, atormentado pelas lembranças de Fleury.

A troca foi proposta por projeto do vereador Orlando Silva, do PC do B, ex-ministro derrubado por denúncias de corrupção no início do governo da presidente Dilma Rousseff. A Secretaria de Direitos Humanos paulistana encampou a troca e, no final do ano passado, debateu o caso com os moradores. Para explicar quem eram Fleury e Frei Tito, o secretário Rogério Sotilli reuniu-se com moradores e coordenou a exibição de filmes sobre os dois personagens.

No final do ano passado, o prefeito Fernando Haddad assinou um decreto estabelecendo a possibilidade de mudanças de nomes de qualquer logradouro cujo personagem está ligado a violações aos direitos humanos. Antes só era possível mudar quando havia duplicidade de nome. O departamento jurídico da Prefeitura ainda está regulamentando o decreto, mas já levantou uma lista parcial, com 13 nomes, entre os quais alguns prometem levantar polêmica.

É o caso da Via Elevada Presidente Arthur da Costa e Silva, conhecido por Elevado e Minhocão que, com 3,4 quilômetros de extensão, liga a região central ao bairro de Perdizes, na zona oeste. Costa e Silva, como se sabe, foi o “editor” do famoso AI-5 (Ato Institucional nº 5), que abriu as portas da repressão e soltou a “tigrada” responsável pelo extermínio de militantes de esquerda.

Outra polêmica certa será a substituição do nome da Rua Henning Boilensen, no Butantã. Ex-presidente da Ultragás e diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Boilensen não só forneceu recursos para financiar a repressão como costumava, segundo policiais que com ele conviveram, assistir a sessões de tortura. Em 15 de abril de 1971, Boilensen foi executado por um comando guerrilheiro na Alameda Casa Branca, nos Jardins.

As demais ruas, avenidas, viadutos e praças que podem ter as denominações trocadas levam os nomes do ex-presidente Humberto Castelo Branco (Marginal Tietê), Mário Andreazza (Grajaú), General Milton Tavares de Souza (Vila Maria), General Rademaker Grunewald (Itaim Bibi), General Humberto Souza Mello (Belém), Carlos Simas (Santo Amaro) Senador Filinto Muller (São Rafael), Dr. Octávio Gonçalves Moreira Júnior (Butantã) e Trinta e Um de Março (Sé e Vila Andrade).

O presidente da Comissão da Verdade paulista, deputado Adriano Diogo (PT) diz que é necessário uma lei que não só impeça a denominação, mas que também permita a troca, em todo o Estado, de nomes de personagens que violaram direitos em qualquer regime. A sugestão será encaminhada também a Comissão Nacional da Verdade, que pode fazer uma recomendação aos estados.

A comissão conseguiu anular um decreto de Maluf que, quando governador, decidiu doar ao II Exército o terreno onde foi instalada a Operação Bandeirantes (Oban), na Rua Tutóia, no Paraíso, centro de detenção e tortura por onde passaram pelo menos 50 militantes de esquerda mortos e desaparecidos. O local deve virar um espaço de memória sobre os anos de chumbo. A estratégia é remover todos os símbolos da repressão.

Fonte: IG

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