Justiça permite que estrangeiros acusados de venda ilegal na Copa saiam do país por 3 meses

RIO – Presos durante a Copa do Mundo sob a acusação de integrarem uma poderosa organização criminosa de venda ilegal de ingressos para os jogos da competição, o inglês Raymond Wehlan e o franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana já podem deixar o país. A Justiça brasileira concedeu, em segunda instância, o direito de os dois viajarem para o exterior por um prazo de três meses. A decisão foi tomada pelos desembargadores Nildson Araújo da Cruz, Rosita Maria De Oliveira Netto e Luiz Noronha Dantas, da 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, no último dia 29. Mas, para ter validade, o acórdão dependia de publicação no Diário Oficial do Poder Judiciário, o que aconteceu ontem. O processo contra os acusados corre sob segredo da Justiça.

Advogados de ambos haviam tentado o benefício na primeira instância. O pedido, no entanto, foi recusado pelo Juizado Especial do Torcedor, de acordo com o delegado-titular da 18ª DP (Praça da Bandeira), Fábio Barucke. Ele foi o responsável pelas investigações que culminaram na prisão de mais de dez pessoas suspeitas de envolvimento num esquema de cambismo e de formação de quadrilha. Barucke disse ontem que os dois respondem por crimes de cambismo, associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa.

Perguntada se não era uma decisão incomum para os crimes imputados a seu cliente, a advogada de Fofana, Lilian Rosemary Weeks, disse acreditar que houve um entendimento de que ele é inocente e nunca atuou como cambista, como sustenta a investigação. Segundo a advogada, Fofana aguarda apenas a liberação de seu passaporte, que estava retido, para viajar. Lilian informou que o acusado pretende ir à França visitar a mãe, que estaria muito doente. Ele também deverá viajar aos Estados Unidos, sede de sua empresa voltada para a área de esportes, e para Dubai, onde mantém negócios.

— Fofana tem vários assuntos pendentes no exterior. Ele vai aos Estados Unidos, onde mantém um escritório, e também a Dubai, onde há negócios dependendo da presença dele para serem resolvidos. E vai, claro, visitar a mãe na França. Meu cliente mora nos Estados Unidos e seu green card (documento que autoriza estrangeiros a residir no país) já expirou. Ele precisa renová-lo. Fofana não pode perder a residência. A esposa e os filhos dele são americanos — afirmou a advogada. — Ele é inocente. Não vende ingressos, não é cambista, muito menos faz lavagem de dinheiro. A investigação policial está completamente errada.

O franco-argelino Fofana, no dia em que foi solto, em agosto: autorizado a viajar 

Por sua vez, a defesa de Raymond Whelan informou que o inglês precisa viajar para resolver assuntos profissionais na Inglaterra, onde é CEO da Match Services, empresa que prestou serviços para a Fifa durante a Copa. Segundo a assessoria de imprensa do escritório de advocacia Fernando Fernandes, que faz a defesa do executivo, ainda não há data para a viagem. Também de acordo com o escritório, no mesmo dia em que a 6ª Câmara Criminal do TJ concedeu ao inglês a permissão para viajar por três meses, Whelan conseguiu uma autorização do governo brasileiro para ter residência fixa no país.

Whelan vive há aproximadamente dois anos no Brasil. Desembarcou no país em 2012 para cuidar da organização da venda de ingressos para a Copa, por meio da Match. Ele, que teria um filho vivendo no Rio, estaria morando num condomínio da Barra da Tijuca.

— Ele tinha visto para trabalhar para a Match (que vendia ingressos para áreas VIP). Whelan ficou aliviado quando soube da concessão da residência permanente no Brasil. Se ele viajar, será apenas para resolver problemas profissionais — informou uma funcionária do escritório de advocacia.

O delegado Fábio Barucke disse nesta terça-feira que, se Whelan e Fofana não retornarem ao Brasil no prazo estabelecido pela Justiça, poderão ser julgados à revelia. Segundo ele, o inquérito policial sobre o envolvimento dos dois na máfia dos ingressos já está encerrado, mas as investigações prosseguem.

— Ainda temos 40 mil minutos de interceptações telefônicas, e outras pessoas poderão aparecer como cúmplices. Não queremos ficar só no cambismo. Queremos enquadrar essas pessoas em crimes mais pesados — informou o delegado. — Os dois não devem menosprezar as instituições brasileiras. Acham que não fizeram nada de errado, mas vão ter de provar isso.

Raymond Whelan e Lamine Fofana foram soltos em agosto deste ano, por decisão do Supremo Tribunal Federal, e estavam impedidos de deixar o país.

RELEMBRE O CASO:

Em março, três meses antes do início da Copa do Mundo, a Polícia Civil começou a investigar um esquema internacional de venda de ingressos de cortesia, que não podiam ser comercializados. Por meio de escutas telefônicas, agentes descobriram que o grupo responsável pelo plano esperava lucrar mais de R$ 200 milhões durante a competição. Além do inglês Raymond Whelan, diretor-executivo do escritório da Match Services no Rio, foram indiciados o franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, apontado como chefe da quadrilha, e outros nove suspeitos, todos brasileiros. No relatório final do inquérito sobre o caso, o delegado Fábio Barucke pediu a prisão preventiva dos 11 acusados. Todos já foram soltos por determinação da Justiça e responderão a processos em liberdade.

A investigação sobre o esquema ilegal de venda de ingressos deu origem à chamada Operação Jules Rimet, que foi deflagrada no dia 1º de julho, com a Copa já em andamento. Na ocasião, a Polícia Civil cumpriu 20 mandados de busca e apreensão. Agentes recolheram planilhas de contabilidade, dólares, reais e euros, celulares, máquinas de cartões de crédito e mais de cem ingressos, incluindo dez que teriam sido fornecidos a um grupo de cambistas ligado ao esquema por um integrante da comissão técnica da seleção brasileira.

O Banco Central e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência monetária do país, foram acionados para colaborar com a investigação, rastreando contas que seriam de Raymond Whelan, Lamine Fofana e de outros sete acusados. Agora, as duas instituições apuram uma suposta prática de lavagem de dinheiro por parte dos suspeitos. Todo o trabalho está sendo acompanhado por delegados do Laboratório de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil.

A Polícia Civil não informou se já conseguiu identificar um fluxo significativo de recursos ou indícios de sonegação fiscal em remessas de dinheiro feitas por alguns dos suspeitos para o exterior. As contas investigadas foram abertas em bancos brasileiros. Agentes ainda estão fazendo transcrições de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça para saber se há outras pessoas ligadas ao esquema ilegal de venda de ingressos. Há suspeitas de participação de um parente de Raymond Whelan, e policiais tentam obter dados relacionados a um braço do grupo que teria a função de gerenciar contas na Suíça.


Fonte: O Globo

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