Brasil ainda vai analisar as ações a serem tomadas. Segundo o ministro, declarações não têm ‘caráter de ameaça’
BRASÍLIA – O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse nesta segunda-feira que a preocupação fundamental do governo brasileiro é “salvar a vida” de Rodrigo Gularte, que está no corredor da morte na Indonésia. Ele revelou que a internação do brasileiro num hospital psiquiátrico é a principal alternativa em estudo.
Ao ser perguntado se uma segunda execução de um brasileiro poderia agravar ainda mais as relações entre Brasil e Indonésia, ele disse que não queria que suas declarações fossem interpretadas como “uma ameaça”, mas acrescentou que o embaixador Paulo Roberto Soares foi chamado de volta ao Brasil para uma real consulta dos passos a serem tomados e não apenas como uma formalidade.
Marco Aurélio disse que os relatos médicos são de que Gularte está realmente doente. No sábado, a Indonésia executou o brasileiro Marco Archer, o que gerou indignação na presidente Dilma Rousseff.
— Pode ser (a ida de Gularte para um hospital psiquiátrico). É o que estava sendo trabalhado lá. Essa é apreciação dos médicos lá (a de que ele está doente). Mas eu sou um leigo. A preocupação do governo brasileiro é, já que não conseguimos ser exitosos na questão do primeiro executado, é que tenhamos, pelo menos, a possibilidade de resolver esse caso — disse Marco Aurélio, deixando claro:
— A esperança é sempre a última que morre. Então vamos trabalhar nessa direção. A preocupação fundamental é salvar uma vida. Vamos fazer o que pudermos para salvar esta vida.
Sobre retaliações em caso de nova execução, Marco Aurélio disse:
— Não quero dar a minha resposta nenhum caráter de ameaça. A preocupação fundamental é salvar uma vida.
O assessor de Dilma relembrou que o Brasil de “tudo que estava ao seu alcance” para evitar a morte de Archer.
— Fizemos tudo que estava ao nosso alcance. Fizemos muito, mas lamentavelmente não conseguimos.
Ele disse ainda que não há definição de quantos dias o embaixador Paulo Roberto Soares ficará no país. Mas deverá ser um tempo suficiente para mostrar o desagravo do Brasil. Segundo o Itamaraty, o embaixador chega na noite desta terça-feira ao Brasil, porque demorou a deixar a Indonésia.
— Não há prazo. Pode ficar um ano ou dois. Ele foi chamado para consultas mesmo e não apenas como uma formalidade. O embaixador vai voltar e vai se apresentar e vamos ver — disse Marco Aurélio.
O embaixador terá encontros com o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e com a presidente Dilma Rousseff para fazer relatos detalhados da situação na Indonésia e do que pode ser feito.
Apesar das declarações de Marco Aurélio, diplomatas do Itamaraty acreditam que é muito difícil reverter a posição do governo indonésio, lembrando que o presidente Joko Widodo tomou posse com o discurso de ser implacável no combate ao tráfico de drogas.
ARGENTINA
Marco Aurélio não quis comentar a morte do procurador Alberto Nisman na Argentina. Ele iria apresentar denúncias em breve contra o governo da presidente Cristina Kirchner.
— Isso é um problema interno da Argentina, não vou me manifestar sobre isso — disse ele.
Quanto à ida de Dilma Rousseff a Bolívia e não a Davos, Marco Aurélio disse que é questão de reciprocidade, lembrando que o presidente boliviano Evo Morales veio ao Brasil.
— O Evo veio ao Brasil. É uma questão de reciprocidade. A Bolívia é um país muito importante para nós, e a presidente estará muito bem representada em Davos — disse o assessor especial da Presidência.
Fonte: O Globo