SÃO PAULO – O rebaixamento da nota de crédito da Petrobras, que perdeu o grau de investimento na agência de classificação de risco Moody’s, faz com que as ações da estatal operem em queda de mais de 7%, o que leva a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) para o terreno negativo nessa quarta-feira. Às 10h58, o Ibovespa, principal índice do mercado local, operava em queda de 1,20%, aos 51.253 pontos. Já o dólar comercial registrava alta de 1,09% diante o real, a R$ 2,863 na compra e a R$ 2,865 na venda.
As ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras registram queda de 7,80%, a R$ 9,09, e as ordinárias (ONs, com direito a voto) caem 7,39%, a R$ 9,02. Queda também nos negócios realizados antes da abertura oficial da Bolsa de Nova York. Os recibos de depósitos de ações (ADRs, American Depositary Receipts) da Petrobras têm queda de 8,16%, a US$ 6,30, nas operações feitas no pré-mercado. Na terça-feira, esses papéis tinham fechado em alta de 5,86%, a US$ 6,86.
Na avaliação de Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital Markets, o rebaixamento só era esperado para depois do divulgação do balanço da Petrobras, quando provavelmente irá piorar a relação entre dívida e patrimônio da empresa.
— O que ocorre nessa quarta-feira na Bolsa é uma espécie de contágio, o que faz com que outras ações registrem queda também — disse o analista, explicando que isso pode ser decorrente do ajuste de fundos que seguem o Ibovespa, como a Petrobras está perdendo muito valor, é preciso vender outros ativos para que a carteira continue refletindo exatamente a composição do índice.
As ações preferenciais da Vale operem em queda de 0,47% e as ordinárias recuam 0,40%. No caso da mineradora, pesa também o recuo do preço do minério de ferro. Também operam com desvalorização as ações do setor bancário, que possui o maior peso no Ibovespa. Os papéis preferenciais do Itaú Unibanco caem 0,92% e os do Bradesco recuam 0,95%. Já no caso do Banco do Brasil a queda é de 2,91%
Na outra ponta, Usiminas e Suzano sobem, respectivamente, 2,56% e 1,82%. Como exportadoras, essas companhias se beneficiam da alta do dólar.
Na exterior, os principais índices europeus operam em queda. O DAX, de Frankfurt, tem leve queda de 0,10%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, cai 0,18%. Já o FTSE 100, de Londres, tem desvalorização de 0,34%.
REBAIXAMENTO MAIOR QUE O ESPERADO
A nota da Petrobras foi rebaixada em dois níveis, de Baa3 para “Ba2”, saindo do grau de investimento para o chamado grau especulativo. Além disso, a agência colocou a nota da estatal em observação negativa, ou seja, uma nova mudança na avaliação pode ocorrer. Para a agência, o rebaixamento foi necessário devido ao atraso da divulgação do balanço auditado do terceiro trimestre, as consequências das denúncias de corrupção e o endividamento da empresa.
Há uma preocupação de como os investidores estrangeiros vão se comportar diante da notícia. Muitos fundos de investimento só aplicam em papéis de empresas grau de investimento – e para isso, em geral, é considerado uma boa companhia aquela que é grau de investimento por ao menos duas grandes agências de classificação de risco. Nas outras duas grandes agências de classificação de risco, a Fitch e a Standard & Poor’s, a Petrobras continua como grau de investimento.
Os analistas da Yield Capital, no entanto, lembram que as ações da Petrobras já estavam com um preço bem abaixo de outras companhias que também são grau de investimento. “Os títulos da Petrobras já são negociados com preços diferentes de grau de investimento”, afirmaram, em relatório a cliente. Eles lembram que os CDS (credt default swaps, que funcionam como uma espécie de seguro) das petroleiras com grau de investimento eram negociados, até terça-feira, com um prêmio de 2,45 pontos percentuais e aquelas que tinham a mesma nota da Petrobras brasileira o CDS estava em 3,50 pontos percentuais. Já a estatal brasileira tinha um prêmio de 5,9 pontos percentuais.
Fonte: O Globo
