Shoppings reforçam a segurança depois de casos de sequestro-relâmpago e assaltos

RIO — Para muitos, pareciam oásis de tranquilidade em meio à violência urbana. Mas o sequestro de uma médica no estacionamento do Shopping da Gávea, no fim de fevereiro, trouxe à tona uma crescente sensação de insegurança em centros comerciais da Região Metropolitana. Outros crimes, incluindo assaltos a clientes, acenderam o alerta. Em resposta, vários estabelecimentos, como o Rio Sul, o BarraShopping, o Shopping Tijuca, o Plaza Niterói e o próprio Shopping da Gávea, afirmam ter reforçado a vigilância. Nesta quarta-feira, fomos a seis centros comerciais. Neles, vigilantes em carros, motocicletas e a pé, por vezes armados, faziam rondas e montavam guarda em pontos estratégicos.

No BarraShopping, onde, em janeiro, dois clientes foram rendidos por bandidos no estacionamento, havia seguranças parados em todas as entradas no início da tarde. Além deles, vigilantes circulavam de motocicleta ou a pé por todo o estacionamento. Em apenas cinco minutos, das 12h30m às 12h35m, a equipe cruzou com sete deles. Segundo o shopping, além de aumentar o efetivo da vigilância privada, foi ampliado o monitoramento eletrônico e o investimento em tecnologia para a segurança dos clientes. A administração do centro comercial também informou que vem conversando com autoridades sobre segurança pública na Barra. No início da tarde, uma patrulha da Polícia Militar também estava posicionada num dos acessos ao shopping, na Avenida das Américas.

Na mesma região, homens armados faziam a vigilância nas entradas do estacionamento do Village Mall. O mesmo acontecia nos acessos ao Shopping Leblon, incluindo a portaria exclusiva para pedestres da Avenida Afrânio de Melo Franco. Do lado de dentro, motociclistas (sem armas) circulavam pelo estacionamento. Mesmo assim, a advogada Marianna Memória disse que se sentia insegura.

De motocicleta, um segurança acompanha a movimentação de clientes no estacionamento do Shopping Leblon

— Este sempre foi um lugar bastante vigiado. Mas, por conta dos últimos acontecimentos, tenho receio até aqui. Os shoppings eram lugares seguros. Agora, em qualquer lugar fico com medo. Tiro colares e anéis para fazer compras, algo que nunca havia pensado fazer um dia — disse Marianna.

No Rio Sul, em Botafogo, vigilantes das áreas internas não estavam armados. Mas, nas duas entradas principais do lugar (na Avenida Lauro Sodré e na Rua Lauro Müller), assim como nos pisos de estacionamento, seguranças circulavam com revólveres. Funcionário de uma loja, o estoquista Edson Francisco afirmou que, até pouco tempo, nunca se preocupou em reparar se os seguranças andavam armados. Ele disse que a medida não o faz se sentir mais tranquilo.

— Poderiam ter armas de choque, por exemplo. Mas de fogo não. Vai que, numa reação, acontece uma troca de tiros? — perguntou Francisco, reivindicando mais segurança no entorno do shopping. — Na Lauro Müller, tem um ponto de ônibus que é muito perigoso. Nos da Lauro Sodré, volta e meia escutamos histórias de assaltos. Frequento também outros shoppings, como o Top Shopping e o Grande Rio, na Baixada. Lá é como aqui. A segurança pública também precisa ser reforçada.

Vigilante armado em uma das entradas do Rio Sul: shopping confirma que segurança foi reforçada – 

A cliente Thaís Teixeira, estudante de administração, pensa de forma parecida. Quanto aos vigilantes armados, no entanto, ela afirmou estar dividida:

— Por um lado, pode inibir a ação de bandidos. Mas também representa um risco em caso de alguma reação a um assalto, com tantas pessoas circulando por perto.

Segundo o Rio Sul, já havia vigilantes armados em alguns pontos mesmo antes dos últimos episódios de violência em shoppings. A administração, porém, informou que reforçou seu efetivo e acrescentou que já estuda aprimorar seu sistema de segurança, o que poderá incluir o aumento da vigilância eletrônica.

O grupo BRMalls — que administra empreendimentos como o Casa & Gourmet, o Ilha Plaza, o Norte Shopping, o Recreio Shopping, o Shopping Tijuca e o West Shopping — informou que, por causa dos últimos casos de violência, contratou novos vigilantes e intensificou o treinamento da equipe. No NorteShopping, nesta segunda-feira, seguranças circulavam a pé nos acessos e nas áreas internas. No estacionamento, faziam rondas de moto. À tarde, eles detiveram um homem que praticara um furto numa loja. Bruno de Lima e Silva foi entregue a PMs, que o levaram para a 25ª DP (Engenho Novo), onde acabou sendo autuado.

CRÍTICAS À SEGURANÇA NO SHOPPING DA GÁVEA

O Shopping da Gávea, onde ocorreu o sequestro da médica, informou ter ampliado o efetivo de segurança e investido em mais equipamentos de monitoramento, além de ter solicitado maior apoio dos órgãos públicos. O produtor de teatro Maurício Alves, no entanto, disse não ter visto seguranças enquanto tentava estacionar, no fim da tarde desta quarta-feira.

— Não vi um sequer. Apesar disso, o shopping ainda é um lugar onde me sinto seguro — afirmou Alves.

Em nota, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) destacou que o setor faz constantes investimentos em segurança, incluindo a instalação de câmeras de segurança e a qualificação de profissionais. “As empresas responsáveis pela segurança nesses estabelecimentos comerciais mantêm o propósito permanente de cooperar, sem limitação de esforços, com as autoridades policiais no combate a ocorrências dentro de suas instalações. Sem prejuízo de seu empenho incondicional, essas empresas não substituem o Estado no papel de prestador de serviços de segurança pública”, afirmou a Abrasce.

Segundo a associação, há 64 shoppings no Estado do Rio (37 na capital), que recebem 53,9 milhões de visitantes e movimentam R$ 16,6 bilhões em vendas por ano.

ANTES LOCAIS PROTEGIDOS, HOJE ÁREAS COM MAZELAS URBANAS

Quando chegaram ao Brasil, na década de 80, os shopping centers vendiam um modelo bem definido: eram espaços à parte na cidade, de temperatura agradável, onde muita gente entrava de dia, saindo apenas à noite. Esses centros comerciais deixavam as mazelas do lado de fora, como observa o sociólogo Ricardo Freitas, professor da Uerj:

— Os shoppings eram uma negação da cidade e do espaço público. Eram lugares assépticos, seguros, que segregavam uma parte da população. Com a expansão para bairros de menor poder aquisitivo, a população, de forma geral, entendeu que o shopping é um lugar possível de ser frequentado.

— Desde o rolezinho, que foi uma manifestação e uma tentativa de inclusão pelo consumo, quebrou-se o paradigma de que shopping não é para todos. Ele faz parte do Rio, e os episódios de violência mostram que a questão da segurança pública é uma só — diz Freitas, para quem os bandidos que agem em shoppings são “sofisticados”. — O fator surpresa é importante.

Fonte: O Globo

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