Em depoimento à PF, Cerveró diz que lobista atuava em mais duas diretorias da Petrobras

CURITIBA — O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró negou ter sido beneficiado por propina, manter contas ou empresas no exterior e ter tentado ocultar seu patrimônio, em depoimento de três horas à Polícia Federal em Curitiba, onde está preso desde quarta-feira. Cerveró afirmou que conheceu Fernando Soares, o Fernando Baiano, em 2000, durante a crise energética, e que ele intermediou oficialmente um contrato entre a Petrobras e espanhola Union Fenosa, de assistência técnica para termelétricas. Depois disso, afirmou, Baiano “continuou frequentando a Petrobras representando outras empresas, tendo se dirigido a outras diretorias, como a Diretoria de Abastecimento e Gás e Energia”. Entre 2007 e 2012, a diretoria de Gás e Energia foi comandada por Graça Foster, atual presidente da empresa.

Cerveró negou ter recebido propina de Fernando Baiano, mas deu detalhes da aquisição e locação de sondas pela estatal, que passava pela criação de subsidiárias no exterior destinadas a comprar e alugar navios-sondas para a própria Petrobras. E na fala do ex-diretor aparece não só a Mitsui, do consultor Júlio Camargo, mas também a Schahin, empresa próxima do petista João Vaccari Neto. Em nenhum momento do depoimento os delegados do PF perguntaram se esse esquema de criação de subsidiárias facilitaria desvio de recursos da estatal. Camargo assinou acordo de delação premiada, informou ter pago propinas para a Fernando Soares em duas negociações de sondas e indicou contas onde depositou o dinheiro no exterior.

Segundo Cerveró, a Mitsui, uma das empresas representadas por Camargo, foi transformada em sócia da Petrobras numa subsidiária criada fora do Brasil e passou alugar sondas para a própria Petrobras. O mesmo modelo de negócio, afirmou, foi montado para a produção e locação de navios-sonda para a estatal utilizar em seus campos de perfuração na África. Neste caso, o navio-sonda seria feito pela Samsung, mas a empresa criada lá fora para alugar para a Petrobras foi uma uma associação entre o Grupo Schahim e a Petrobras.

Esta não é a primeira vez que o Grupo Schahin é citado na Operação Lava-Jato. A Schahin teria sido alvo de uma “troca” de créditos de propina relatada ao Ministério Pùblico Federal por Pedro Barusco Filho, gerente do setor de Engenharia da Petrobras, comandado por Renato Duque. Barusco teria dinheiro a receber da Schahin e Vaccari Neto de uma outra empresa. Para facilitar o recebimento, eles teriam trocado os “créditos”.

Cerveró comandou a diretoria internacional até 2008 e afirmou que todas as aquisições de equipamentos, construção de refinarias e de gasoduto passavam pela aprovação de toda a diretoria executiva, formada por seis diretores e pelo presidente da estatal. No depoimento, prestado a quatro delegados da PF, dois deles de Curitiba, não foi perguntado nada sobre a refinaria de Pasadena. Segundo Brandão, a refinaria no Texas será alvo de um novo depoimento, ainda sem data definida, pois a Polícia Federal ainda está analisando documentos relativos ao negócio.

Ainda na quarta-feira, a Petrobras pediu acesso aos processos que envolvem Cerveró e obteve autorização da Justiça Federal.

Cerveró também disse à Polícia Federal que se viu obrigado a fazer movimentações financeiras porque ganhava R$ 100 mil por mês até março do ano passado, quando foi demitido do cargo de diretor financeiro da BR Distribuidora, e está desempregado desde então. Agora, segundo ele, ganha R$ 10 mil de aposentadoria e R$ 5 mil do aluguel de um apartamento em Ipanema. As movimentações financeiras, afirmou, foram necessárias e a retirada de quase R$ 500 mil de um fundo de previdência, para ser repassado à filha Raquel Cerveró, não foi efetuada.

O advogado dele confirmou que Nestor Cerveró tem dupla cidadania (espanhola), mas ressaltou que ele viajou ao exterior com passaporte brasileiro.

– Ele respondeu todas as perguntas, não deixou nada sem esclarecer – disse o advogado Beno Brandão;

Cerveró confirmou a compra dos imóveis, iniciadas em 2003, e disse que elas são fruto de herança e do rendimento dele como executivo da Petrobras. Confirmou ter morado num apartamento avaliado em R$ 7,5 milhões que pertence à offshore Jomey, mas afirmou que é apenas locatário.

– Não foi perguntado quem seriam os donos – disse o advogado.

Brandão afirmou estar otimista com a possibilidade de Cerveró ser libertado rapidamente. O advogado Edson Ribeiro, um dos que representam Cerveró, impetrou habeas corpus na tarde de ontem no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Fonte: O Globo

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